Dos céus, Graciela contempla o amor de Pedro Martín
Foto aérea do bosque
Quando sobrevoam esses campos nas Pampas argentinas, os pilotos observam com curiosidade as alamedas desenhadas com eucaliptos e ciprestes compondo o enorme instrumento de cordas, tão ligado ao folclore da região.
Foi desse modo que Pedro Martín Ureta exteriorizou seu amor pela sua Graciela, falecida há 34 anos. O fazendeiro, hoje com 70 anos, usou 7.000 mudas para compor o bosque em homenagem a ela, que aos 25 anos não resistira a um aneurisma cerebral. Foi de repente, relata Ezequiel, o filho caçula, contando que a mãe estava grávida do que seria o quinto filho do casal. Ele continua o relato dizendo que em um voo, dentro de um pequeno avião, ela viu um campo com um raro formato de um balde e pensou que poderiam fazer algo parecido, construindo uma casa no meio de uma paisagem criada com a forma de um violão, instrumento que adorava. Na época, Pedro Martín atarefado demais, não teve tempo de realizar o sonho de sua esposa que tinha 17 anos quando casaram. Depois de uma vida de boemia e de uma longa viagem a Europa ele voltara para assumir a vida de campo, tradição de sua família que tinha raízes antigas por lá.
Graciela Yraizoz
O padre que celebrou a cerimônia não estava muito convencido que ele, na época com 28 anos, a amaria “todos os dias de sua vida”. Enganou-se. Viveram uma união afortunada e quando ficou viúvo, fiel a memória da amada, cumpriu a vontade dela e arborizou a fazenda de 130 alqueires do jeito que ela sonhara, reservando 10 alqueires para isto: o violão tem 2.500 metros de comprimento e 400 de largura.
Pedro Martín Ureta, na fazenda
Desenhou o contorno e a boca do violão com ciprestes e as cordas foram feitas com seis fileiras de eucaliptos-prateados que ressaltam com o tom azulado da folhagem. Pedro Martín conta que foi uma empreitada difícil por causa das lebres e dos coelhos selvagens que destruíam as mudas, além do mais, os ventos e a seca não ajudavam muito e os trabalhos tiveram que ser refeitos repetidamente. Enquanto isso criava seus quatro filhos, cumprindo rotinas como levá-los a escola na sua picape, dirigindo 15 km por estradas de terra que, enlameadas na época das chuvas, fazia com que atolasse e tivesse que recorrer aos cavalos para tirar o veículo do barro. Coisas da vida rural, sempre tão parecidas em qualquer lugar do mundo.
Hoje os quatro filhos, orgulhosos do pai, estão formados: o mais velho, Ignácio com 42 anos é engenheiro, Soledad, professora de crianças especiais, Maria Julia, representante farmacêutica e Ezequiel, veterinário. Deram-lhe nove netos. Ureta conheceu, depois de vinte anos de luto, Manuela, que teve com ele uma filha, hoje com 11 anos. Mas não pensam em casar, ela se emociona com a homenagem que ele prestou a Graciela. Ele é um conservador convencido de que o homem se encontra com a sua essência no silêncio e que a riqueza verdadeira é a de ser dono do seu tempo. Filosofa, fala de política, de seus antepassados bascos, dos cavalos e faz uma comovedora pausa quando lembra de sua primeira esposa…
O nome da fazenda? La Guitarra, claro! Está localizada 19 km ao Norte de General Levalle, na região pampiana ao Sul da Província de Córdoba, na Argentina.
Autor: Raul Cânovas