Quase imune às queimadas e com um córtice semelhante a um mata-borrão, a melaleuca desperta fascínio pelo jeito com que se deixa acariciar
Melaleuca quinquenervia
Vejo a natureza como um enorme palco, um cenário do tamanho do mundo onde é representada eternamente esta peça clássica chamada de "vida"; o autor, desconhecido, mas não ignorado, colocou inicialmente um elenco vestido com lenhos e folhas para representar e, também fundamentalmente, crescer no espetáculo.
Algumas personagens se destacaram mais, tornaram-se artistas célebres, parece que nesta montagem algumas estrelas caíram do céu e ao atingir a terra se transformaram em árvores. Só que em árvores muito especiais, com muito brilho, por isso foram elevadas a protagonistas, e por estarem mais evidentes que o resto da companhia, coadjuvantes e figurantes, atingiram a fama.
Estou falando de uma dessas "divas" vegetais, que apesar de mudas e estáticas, enchem os olhos com sua imponência.
A melaleuca é nativa na Austrália, Tasmânia, Nova Zelândia, Nova Guiné, Timor, Indonésia e na Nova Caledônia, onde é conhecida pelo nome de niaouli. No continente oceânico ela é encontrada em charcos e pântanos, por isto a sua indicação para terras úmidas e alagadiças. No entanto, nos pântanos de Everglades na península da Flórida, sudeste dos Estados Unidos da América, espalhou-se de tal forma que está substituindo florestas inteiras de essências nativas. Calcula-se que 182.000 hectares foram invadidos pela Melaleuca quinquenervia; a disseminação ocorreu tanto através de sementes como de outras partes vegetativas.
No U.S.A. Congress OTA, em 1993, foi considerada a espécie exótica de introdução mais desastrosa do século XX. Porém, não fique assustado. As divas são assim mesmo, avassaladoras, e às vezes um pouco prepotentes, mas, no fundo, no fundo, são brilhantes e complexas. Tanto que esta árvore da qual estamos tratando fornece um óleo que tem ação antisséptica e anti-inflamatória, sendo indicado para o tratamento de micoses, acne, candidíase e até neuralgia, reumatismo e a misteriosa doença de são-guido. Tem quem diga que as folhas, transformadas em sais de banho, combatem a depressão psicológica e, inclusive, podem ser consumidas em forma de tempero, devido ao seu aroma delicadamente perfumado.
O cajepute ou sete-capotes, como também é conhecida, tem como característica marcante um tronco coberto por uma casca leve, porosa e absorvente, que em forma de membranas escamosas e leves soltam-se do caule. A palavra melaleuca tem sua origem no grego: melas que significa preto e leukos que quer dizer branco, fazendo uma alusão às cores das cascas velhas e novas. O porte esguio e as flores, geralmente no inverno ou na primavera, brancas, ou raramente róseas, transformam esta árvore em um elemento marcante dentro de um projeto paisagístico.
Autor: Raul Cânovas