Guardo uma estima enorme por eles e reconheço a importância do trabalho que fazem
Graças aos viveiristas que nós, paisagistas, projetamos jardins incomuns com espécies raras ou árvores salvas da extinção. São eles que procuram sementes e fazem enxertos muitas vezes insólitos, procurando variedades novas ou cruzamentos que resultam em híbridos com novas cores e formas. Acostumei a lidar com eles desde pequeno (meu avô era um deles) e até tentei cultivar mudas em uma época já distante, mas não era minha “praia”. Descobri que não tinha a paciência suficiente para esperar que elas ficassem com o tamanho ideal, para serem usadas nos meus jardins. O cultivador, diferente de mim, desfruta do parto da semente e dedica sua vida a assistir aquela plantinha para que seja saudável, cuidando de sua alimentação, curando suas doenças quando aparecem e disciplinando-a para que cresça dentro das expectativas esperadas. Eles são os pediatras das plantas, e eu descobri que queria dar-lhes um lugar definitivo para luzir. Minha vocação sempre foi a de reuní-las de forma que se harmonizassem entre si.
Sei que é impossível separar-me deles, porque foram eles que me ensinaram os caprichos de cada espécie. Foi o Seu Nuto, da Floricultura Campineira, que revelou um montão de segredos escondidos por trás de palmeiras e mais palmeiras (segundo ele não contou nem 10%, ainda bem, temos muito papo pela frente). Foi Júlio Ishibashi-san que, pacientemente, ensinou truques com azaléias, camélias e tuias, que uso até hoje na tentativa de não decepcionar meu mestre. Estudei com Ruben Acosta as marantas mais raras (pena que foi embora para cuidar das raridades no Éden). Ainda aprendo, porque não há nada melhor do que ficar sabendo dos enigmas que a natureza oculta. Faço isso com Edilson Giacon e com Luis Bacher, que me ensinam sobre frutíferas, com Marcos Bernardi que sabe tudo a respeito de essências nativas e com meus amigos Cristiano Budreckas e Roberto Ferrari que sabem tudo sobre tudo.
Não entendo como alguns paisagistas se privam de visitar os produtores de plantas, para terem a possibilidade de ver “in loco” como elas são formadas, o tamanho que alcançam quando adultas, sua melhor exposição ao sol, enfim, avaliá-las nesses berçários a céu aberto. Penso que o paisagista se parece um pouco com outros criativos que imaginam produtos que admiramos: estilistas, chefs de cozinha, designers e publicitários, e esses bons profissionais “garimpam” suas matérias primas de modo exaustivo, não compram os materiais para seus trabalhos em shoppings, supermercados ou na banca de jornal da esquina. Os primeiros visitam industrias têxtis; granjas e produtores de hortifruti os chefs, e os outros criativos de bom nível vasculham nos laboratórios e nas peças inéditas que lhes deem suporte para suas campanhas. É banal, quando não medíocre, comprar árvores, arbustos ou qualquer outro elemento para o jardim, valendo-se apenas dos ceasas ou dos gardens centers. Cuidado, observem que digo apenas, nada contra adquirir algumas mudas nos entrepostos ou floriculturas, mas nesses locais as raridades, as exclusividades e a excepcionalidade, não estão à venda. Plantas singulares e incomuns crescem nesses viveiros onde os colecionadores lhes dão vida.
Autor: Raul Cânovas