Na Idade Média os jardins ficavam escondidos dos olhares
O Freixo (Fraxinus excelsior)
As casas, nas cidades medievais, eram construídas em pedra e, juntas umas às outras, davam moradia a no máximo quinhentas pessoas entre os séculos X e XV. As muralhas que as protegiam ocultavam os segredos de seus habitantes e os protegiam dos ataques dos povos bárbaros da época. Europa vivia anos de introspecção cultural e econômica, homens e mulheres trabalhavam em troca da proteção que os senhores feudais lhes propiciavam e raramente viajavam, impedindo assim uma troca de conhecimentos, fazendo desse período compreendido entre a cultura greco-romana e o Renascimento um tempo conhecido como Idade das Trevas, por causa do pouco desenvolvimento em todos os campos humanos.
Giesta (Spartium junceum)
Entretanto, os historiadores contemporâneos, afirmam que alguns destaques podem ser apontados, como a arquitetura religiosa e as ciências ocultas da alquimia que buscava, manipulando substâncias misteriosas, os conhecimentos herméticos do passado. Os alquimistas combinavam elementos químicos, metalúrgicos, matemáticos e astrológicos para conseguir resultados mágicos, como os de transformar metais em ouro ou curar males raros com elixires complexos. Eram obcecados na busca da pedra filosofal que permitiria a vida eterna de todos os homens e mulheres, salvando-os das amarguras e doenças desses anos.
As bruxas, menos pretenciosas, se esmeravam produzindo meios astutos para coisas do cotidiano, como unguentos, poções, feitiços e beberagens. Prometiam, com seus sortilégios, tudo aquilo que a religião proibia, abastecendo de prazeres uma sociedade sofrida. Cultivavam ervas batizando-as com nomes bizarros, evitando que outras pessoas descobrissem seus nomes verdadeiros; o alecrim era chamado de pernas de aranha, lagrimas de moça era a cebola e a pimenta do reino ganhava o apelido misterioso de asas de morcego. Formulavam seus quebrantos encantados misturando essas plantas com sangue de moça virgem, que na realidade era vinho tinto barato e adicionavam beijos de sereias, um nome no mínimo romântico dado pelas bruxas à sal. Estes “trabalhos” só podiam ser feitos em cima de mesas triangulares fabricadas com madeira de ciprestes, colhidas nos cemitérios em noite de lua cheia. Contam, inclusive, que essas feiticeiras montavam em vassouras voadoras, confeccionadas cuidadosamente com madeira de fresno e gravetos de giesta amarrados com raminhos de salgueiro, pairando nos céus antes do sol nascer. Depois do amanhecer voltavam a suas casas para cuidar do jardim que, para dizer a verdade, não tinha nada de mal-assombrado. O sol era generoso até com as bruxas medievais.
Autor: Raul Cânovas