Quero reverenciar os heróis sem nome
Sim, aqueles que neste ano não foram manchete e nem sequer receberam um tímido aplauso pelas façanhas realizadas. Sei que o mundo inteiro estava por demais ocupado curtindo os homens extraordinários, os descobridores, os protagonistas celebrizados pelos triunfos e conquistas. Mas desta vez prefiro falar de jardineiros que não fizeram nem fazem história. A mídia destacou exaustivamente nomes como: Barack Obama, Mark Zuckerberg, Madonna e Joaquim Barbosa, entretanto não teve espaço para falar dos anônimos que, de algum modo, deixaram este mundo um pouco menos triste, dando esperanças aos poucos que prestaram atenção a seus feitos. Sei que as figuras que citei influenciam o cotidiano das pessoas merecendo nossa atenção, mas também penso que a imprensa, no caso dos jornais, revistas, rádio e televisão, por qualquer motivo que escapa a esta crônica, deixa de lembrar aqueles que influenciam silenciosamente e sem alardes nossas vidas.
Entre estes últimos quero destacar alguém em particular. Ele se chama Ivanildo e é jardineiro, um humilde jardineiro que labuta cuidando das plantas alheias. Ivanildo não tem espaço para cultivar nada a não ser uns vasinhos improvisados em latas de conserva onde crescem arrudas, manjericão e coentro, na janela de sua cozinha simples e minúscula. Ele é o protagonista do que podemos chamar de boas ações e para mim, uma criatura que forma parte dessa equipe que a humanidade classifica como “gente boa”.
Mas vamos aos fatos. O jardineiro, acostumado a exercer sua tarefa em bairros mais abastados, sempre notou que as ruas eram bem arborizadas e que o calor era menos aflitivo, que naquelas onde as calçadas eram desprotegidas do sol e dos ventos. Eram assim as do bairro onde morava, na sua rua e nas vizinhas não havia uma árvore sequer para prover de sombra. Foi aí que teve a ideia de juntar sementes nos jardins que cuidava. Neles tinha de tudo um pouco: sibipirunas, paus-ferro, alecrins-de-campinas, ipês, quaresmeiras e muitas outras. Pediu permissão aos donos das casas onde cresciam e, depois de concedida, começou a dedicar os finais de tarde a semear essas árvores num espaço improvisado na laje da sua casa. Fez um canteiro e o protegeu do sol com gravetos secos. Graças aos cuidados contínuos, as mudinhas começaram a emergir em poucos meses, já com dez centímetros as transplantou à saquinhos de plástico para desenvolverem melhor. Neste ano – toda essa operação acontecera em 2011 – as plantas estavam com um bom tamanho para serem plantas nos locais definitivos e Ivanildo se lançou a uma campanha para que os vizinhos aceitassem as árvores, nas suas calçadas e colaborassem com as regas e a manutenção delas. Até teve a cooperação de todos, na empreitada de plantio, durante dois finais de semana.
O sucesso foi total, ninguém, ninguém mesmo recusou o presente do herói-jardineiro e graças a ele terão um feliz ano novo e muitos outros felizes, com a sombra que irão usufruir, graças ao pioneirismo deste paladino que nunca será manchete dos noticiários.
Autor: Raul Cânovas