40. Cultivar frutíferas nativas é mais fácil, visto que não dependem de adubos e inseticidas.
Cajueiro
O acervo florístico do Brasil é riquíssimo. São, aproximadamente, 55 mil espécies vegetais. A diversidade no nosso país também se faz presente com árvores frutíferas, e os estudos na área de fruticultura apontam centenas de espécies nativas. Algumas um pouco mais populares como cajá, araticum, caju, umbu, buriti, macaúba, babaçu, jatobá, goiaba, araçá, pitanga, jabuticaba, jenipapo e maracujá. Outras muitas desconhecidas, no entanto cultivadas. O produtor Helton Josué reúne 600 espécies no sítio Frutas Raras, em Campina do Monte Alegre (SP). Muitas delas, além de saborosas, têm potencial paisagístico e são de fácil manejo.
41. Consumir frutas regionais economiza custos de transporte, garante produtos mais nutritivos e baratos e beneficia o trabalhador rural local.
Quando falamos de sustentabilidade devemos levar em conta o que uma fruta importada traz junto: custos de transporte, perda de nutrientes por causa da colheita prematura e desemprego para o nosso trabalhador rural. Nossas frutas comestíveis podem chegar aos pontos de venda mais cedo, sem necessidade de câmaras frigoríficas, portanto, frescas e mais nutritivas, dando oportunidade de trabalho ao nosso fruticultor.
42. Tendência paisagística é o rumo coletivo e regional que nos leva, lentamente e sem sobressaltos, a um “estado das coisas” que nos satisfaça.
Estudos recentes confirmam que o brasileiro com as suas diferentes preferências e costumes, de acordo com a região onde mora, está valorizando melhor suas paisagens regionais. Os rumos e as tendências que marcaram a arquitetura paisagística durante décadas mostram, apesar disso, uma falta de afirmação nacional. O reconhecimento e a aceitação da paisagem que nos rodeia influencia psicologicamente na satisfação que sentimos de viver plenamente.
Se, de verdade, trabalhássemos para libertar nossas emoções, teríamos que começar por aceitar e amar o aspecto genuíno de nosso contorno. É fundamental entender que a única forma de sermos ricos internamente é rompendo as travas que nos impedem de aprovar o circuito periférico que conhecemos como “nossa terra”. A satisfação das pessoas com suas vidas não está diretamente relacionada com a renda, e sim com o bem-estar e a paz interna.
43. Sustentar não é só ser ecologicamente correto, é ser fiel à natureza.
A fidelidade é um atributo que significa conservar, preservar as características originais daquilo que herdamos. De algum modo implica em confiar e manter as referências no âmbito de nossa cultura ambiental, mantendo a essência de nossa flora, para que não sofra as influências externas que levem a transformações culturais indesejadas.
44. O jardim não é um espaço temporário, transitório. Ele é o conjunto de elementos que trabalham sem interrupção e de modo contínuo.
Pirâmide
O jardim pode ser eterno, atemporal. Uma vez criado, seguirá rumos próprios traçados pelos seres vivos que nele habitam. Nada nele deixa de existir, cada célula estará se transformando incessantemente, mantendo as substâncias que funcionaram como ingredientes no seu projeto inicial.
Toda obra humana tem duração limitada. Até a pirâmide de Quéops, conhecida como a Grande Pirâmide, com seus 2,3 milhões de blocos de rocha e 4.000 anos de história, irá ruir um dia. Mas o jardim, quando feito de forma completa, reunindo todos os elementos sujeitos a uma unidade harmoniosa, poderá, pela sua perfeição, ser imortal.
45. Ao projetar um jardim, um pouco sem querer criamos um bioma, onde seres vivos irão se relacionar e evoluir. Isto é sustentabilidade.
O lado quase divino, ou pelo menos sublime e encantador, do construtor de jardins é que reunindo espécies diferentes estará formando um ecossistema, uma comunidade biológica homogênea, com uma população de organismos vivos interagindo entre si e interagindo também, com o que está em volta dele.
46. Ao paisagista cabe defender a biodiversidade da região onde atua profissionalmente.
Independente de qualquer fator, seja político, arquitetônico ou comercial, é função do paisagista proteger de qualquer agressão a flora nativa do lugar onde exerce sua atividade. Cada região tem sua riqueza florística que possibilita ao profissional um trabalho com acabamento estético e com ética sustentável.
47. Ecosofia é filosofia ecológica, associando o ambiental, o social e a subjetividade humana, apontando a necessidade da junção ético-estética.
Félix Guattari
A filosofia ecológica do militante francês Félix Guattari (1930-1992) é baseada em uma articulação ético-política entre essas três ecologias que, interligadas, poderiam esclarecer tais questões. O que é abordado nesta forma de pensar é como viver sobre este planeta daqui em diante. É interessante, segundo o pensador, não insistir apenas nos paradigmas estéticos, mas investir na reinvenção de nossos conceitos. Acredito que ler Guattari ajudaria a entender melhor o que podemos (e devemos) fazer pelo planeta e por nós mesmos.
48. Reservar uma caixa d’água para captar um pouco das chuvas. Adicionando adubo orgânico líquido nela teremos, regando o jardim, plantas bem nutridas.
É simples, é econômico. O método permite que em cada estação planejemos os nutrientes necessários para o melhor desenvolvimento do jardim. Fertilizantes nitrogenados no inicio das chuvas, potássicos na época da estiagem e fosfatados na pré-florada.
49. Preparar um solo com estado físico adequado é economizar, no futuro, com adubações caras e de efeito paliativo.
A base de um jardim impecavelmente estruturado é a preparação do solo. Este deve ser analisado antes do projeto para que se perceba claramente, sua predestinação, a inclinação natural que possui para determinado cultivo. Obviamente, corretivos e adubações podem melhorar a estrutura e a fertilidade dele, porém é de bom senso admitir as tendencias naturais que possui e não contrariar o que a natureza lhe atribuiu.
50. Não há plantas que “aguentam”, cada espécie tem uma necessidade de luz e de água, além de uma pretensão quanto a latitude e a altitude, acima do nível do mar.
Não é lógico e muito menos moralmente aceitável impor a uma planta o dever de ser bonita sob condições que não lhe são favoráveis. Muitas vezes me perguntam: esta planta aguenta…? E respondo: plantas não vivem uma existência para suportar nossas imposições arbitrárias. Suas necessidades devem ser respeitadas. As plantas não admitem que, de repente, depois de milhões de anos habituadas a uma determinada situação, lhes seja mudado o destino, empurrando-as para um vaso acantonado em uma sala escura ou plantadas sob um sol escaldante quando sempre cresceram na “sombra e água fresca”.
Enfim, sustentabilidade é tudo isso… e muito mais!
Autor: Raul Cânovas