As flores da datura inspiraram desenhos de Alphonse Mucha (um dos artistas mais representativos do Art Noveau), de sua conterrânea, a pintora tcheca Milena Safrova e, mais recentemente, do radiologista americano Steven N. Meyers que usa a técnica dos raios X para criar luzes e sombras na sua obra. No Teatro Amazonas, em Manaus, os imponentes lustres lembram o formato pendente dela. Isto mostra a potencial beleza, ainda não descoberta no paisagismo local, apesar de sua presença constante nas regiões de clima úmido e quente de todo o país. Onde moro, em plena mata atlântica de São Paulo, cresce espontaneamente nas áreas brejosas soltando suas imensas flores brancas que pendem dos ramos desses arbustos, formando colônias numerosas em torno da Represa Billings, um dos maiores e mais importantes reservatórios de água da região metropolitana da cidade. Nesse santuário convive com a palmeira-içá, o pau-cigarra, o manacá-da-serra, as ipomeias e muitas outras espécies nativas.
A planta chama a atenção de todos há muito tempo. O próprio Homero, poeta épico grego, falava dela 850 anos a. C. na sua Odisseia e na medicina Ayurveda, desenvolvida na Índia há 7 mil anos, a Dhatura, que em hindi significa maçã-de-espinho, é mencionada profusamente. A saga desta semi-lenhosa, dispersa pelo mudo todo, continua na Idade Média fazendo parte de unguentos usados na magia e bruxaria e na América onde diversas tribos a utilizavam nos seus rituais religiosos. Até o momento, as folhas e as flores, depois de secas, servem para diversas receitas medicinais e alucinógenas, porém a dosagem depende do peso e da saúde do usuário que, se exacerbada, pode levar à morte. Devido à divulgação do uso da datura como alucinógeno, sua circulação no Brasil é controlada pelo Ministério da Saúde, conforme especificado em portaria da ANVISA.
Autor: Raul Cânovas