Bento XVI e os Jardins de Castel Gandolfo

Joseph Ratzinger procurará a paz no colossal espaço que se estende por 55 hectares

A pequena cidade onde está localizada a residência do último pontífice tem por volta de 7 mil habitantes e fica às margens do Lago Albano, que ocupa cerca de 6 km², na região do Lácio à 5 km de Roma. Nela o arquiteto Carlo Moderno, que trabalhava com seu tio Domenico Fontana em encomendas papais, levantou para Taddeo Barberini, sobrinho do Papa Urbano VIII, a que seria a partir de 1596, a residência dos Papas. Em seguida, depois da sua morte, Bernini, escultor e pintor do barroco italiano, foi nomeado arquiteto responsável pela Basílica de São Pedro e pelo Palazzo Barberini.

A casa de veraneio foi construída em uma área singular. Posicionada sobre as rochas que dominam o pequeno lago a 426 metros de altura. A cidadela cresceu em quatro séculos para transformar-se em um refugio de férias encrustada no povoado, que figura na lista dos mais encantadores vilarejos da Itália. Lá passeou durante longos anos Pio IX e João Paulo I, que pouco tempo teve – apenas 33 dias – para encantar-se com os peixinhos vermelhos do lago ou com as centenas de roseiras do jardim. Aliás, dos 32 últimos Papas, apenas 15 deles usaram a residência de Castel Gandolfo.

Embora tenha dito em 2011: “aqui encontro tudo, montanha, lago e vejo até mesmo o mar… as pessoas são gentis", o, até a semana passada, líder mundial da Igreja Católica, pouco andou pelas sendas sombreadas por sisudos ciprestes, já que é um homem de estudos, reservado, que não gosta da vida ao ar livre, preferindo tocar obras para piano de Bach, Mozart e Beethoven, segundo afirmou o diretor das Vilas Pontificais há 53 anos, Saverio Petrillo, ao longo de uma visita organizada para a imprensa no último 22 de fevereiro. Petrillo instrui os jardineiros na poda do outono e nos cuidados das flores na primavera, seguindo uma tradição imposta por Pio XI que, com o “Settore dei giardini”, queria que o mundo soubesse da atenção que a Igreja dava às áreas rurais. A enorme área é acrescentada por uma horta que abastece a mesa do Papa com todos os tipos de produtos agrícolas. Foi nesse jardim que Bento XVI passou longos momentos escrevendo a trilogia “Jesus de Nazaré”, obra publicada em nove línguas – inclusive português – e vendida em mais de 50 países.

Esse lugar bucólico deverá inspirar o próximo Papa que, iluminado por uma mística de vinte séculos, deverá manter a fé de mais e um bilhão de fiéis. Faço votos para que, o esperado sucessor de Pedro, trabalhe em prol de uma Igreja amiga, entendendo que pior do que o esvaziamento dos templos e catedrais é exaurir as forças das convicções mais íntimas.

 

Autor: Raul Cânovas

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