Eu, pessoalmente, acredito que todo este imenso cenário que chamamos de planeta terra, foi sendo moldado com muito cuidado, lentamente e até com certa parcimônia. Se não, vejam: segundo os cientistas a terra tem 4,6 bilhões de anos, as primeiras rochas apareceram a quase 4 bilhões de anos, depois surgiram bactérias, algas, musgos e cogumelos. Mas, as primeiras árvores fincaram suas raízes muito tempo depois, mais ou menos há 150 milhões de anos, quando apareceu o Gingko, que embora não se pareça em nada com as coníferas, cuja família agrupa os pinheiros, as thujas, as araucárias, os cedros e tantas outras, é quase uma prima delas. Este Gingko, a meu modo de ver, foi uma espécie de herói vegetal, porque se incumbiu de uma tarefa que na época poderíamos chamar de ciclópica, emergindo no meio das samambaias com a robustez de um tronco lenhoso. Parece que esta proeza, aconteceu na China. O Ocidente só conheceu esta árvore em meados do século XVIII, quando foi introduzida na França.
Acredito que as árvores serviram para dar um acabamento a paisagem, depois da aventura bem sucedida do Gingko despontaram outras aumentando a biodiversidade e acrescentando formas a essa paisagem definitiva.
Tudo isto, como vocês podem ver, demorou muito e até faz sentido, porque só por intermédio de processos lentos é que chegamos à perfeição. E não há dúvida que a intenção do planeta era a de proporcionar um habitat imenso, bem acabado e primoroso para que nós, mulheres e homens, tivéssemos um campo ideal para nos aperfeiçoar.
Em um texto tomado de um velho livro judaico, a respeito do Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, que trata especificamente da origem do mundo e do gênero humano, Deus afirma que plantou uma árvore para que, mais tarde, o mundo inteiro pudesse nela deliciar-se. Ela abrange o todo, esse todo é abarcado por ela e todas as coisas do mundo necessitam dela. Porque dela emanam as energias da vida. Segundo alguns talmúdicos, que são aqueles que interpretam os antigos textos hebraicos, Deus teria experimentado um imenso prazer depois de sentir os resultados desta experiência divina e, eles mesmos fazem uma analogia entre os poderes de Deus e a copa da árvore da vida. As forças celestiais estão dispostas em camadas e são como uma árvore que proporciona seus frutos. Na medida em que o Criador aumenta sua vitalidade por intermédio da água da vida e da sabedoria, estes frutos seriam as almas dos próoacute;prios homens e mulheres que voam em direção ao divino. A imagem, segundo estes rabinos, é muito bonita porque se vê completada por anjos que surgem mais tarde, alegoricamente, adotando a forma de árvores no Paraíso.
Gostaria de esclarecer que quando falo da ligação atávica, ou seja, dessa herança psíquica e remota que nos une às florestas, não o faço como paisagista apenas. É fácil perceber que o ser humano desde épocas distantes buscou na mitologia, as explicações para sua própria existência e nestas passagens dos tempos fabulosos podem ser encontrados uma porção de deuses que representam as forças da natureza.
Alguns destes deuses são bastante conhecidos e até citados pelos poetas e pelos professores de história. Mas há outros dos quais raramente ouvimos falar, como é o caso de Vertumnio que foi coroado no Monte Olimpo com ervas e lhe foi dado uma cornucópia, uma espécie de vaso em forma de corno, cheio de flores e de frutos. Vertumnio casou com Pomona, também uma divindade etrusca, que simbolizava estas flores, as plantas e também os frutos, mas era ele o deus que protegia os jardins e as hortas.
Nesse mundo divino e fantástico descobrimos Silvano, que era o Deus das árvores e dos bosques e Ceres, que era a deidade da vegetação.
A relação é enorme, mas o importante é saber que os gregos e os romanos tentaram entender e representar a beleza por intermédio do celestial e da pureza. Os deuses representavam esta beleza e, no mundo antigo, se acreditava que as coisas bonitas e perfeitas estavam intimamente associadas à natureza. As pessoas, dessa maneira estariam criando ícones e ao mesmo tempo metas a serem atingidas através da perfeição.
Os Caldeos e os Assírios foram os primeiros a dar um significado simbólico. A árvore da vida era representada nos relevos escultóricos acompanhada de seres alados em atitude de adoração.
Depois, já na Idade Média, era comum ver a árvore genealógica de Jesus. Da boca e do peito de José, quase sempre em posição deitado surge uma árvore, com galhos sempre carregados de folhas e de frutas. Aparecem também os reis de Judá, ascendentes de Cristo e, no último galho, rodeada de uma aura de luz, está a Virgem Maria, vestida de rainha, com o menino nos braços e com freqüência sentada sobre uma flor que lhe serve de trono. Nesta árvore aparecem os profetas e até os sábios da antiga Grécia.
Por falar em símbolo, muitas são as árvores que representam a imagem do estoicismo, da robustez e da energia. As sequóias californianas, com mais de cem metros de altura, alguns carvalhos europeus e um raro cipreste que vive em um cemitério no México, tem idades em torno de quatro mil anos. Um pinheiro, vegetando a uma altura de 3.200m nas montanhas Rochosas, na América do Norte, tem 4.900 anos e apenas doze metros de altura.
Também no México, outra testemunha da história é “El arbol de la noche triste”, esta Ceiba deu abrigo ao conquistador Hernán Cortés após ter sido vencido pelos indígenas; segundo a lenda, o navegante espanhol chorou a derrota protegido pela copa da árvore em 1º de julho de 1520. Sua idade foi calculada em 6000 anos e, uma comissão internacional de botânicos está trabalhando para sua preservação.
Ciprestes plantados pelos Etruscos na península itálica, Baobás na Índia e até oliveiras no Gethsemani, onde Jesus orou, ainda vivem no meio a uma calma secular. Aqui no Brasil, mas precisamente em Santa Rita do Passa Quatro – SP, um Jequitibá de 45 séculos de vida precisa de mais de dez pessoas para ser abraçado.