Uma espécie de principio imaterial as unia. Ela uma árvore, ele um guaimbê
Cresciam juntos, cada um a seu modo, uma esbelta e jeitosa recebendo o abraço do outro. Sei que chamá-las de almas gêmeas pode parecer um pouco exagerado tratando-se de plantas, mas creio que esse princípio espiritual do homem, também habita na essência de árvores e de guaimbês. Não consigo aceitar que eles tenham um vazio interior.
Tudo começou como um acaso. Provavelmente foi uma arara que soltou sementes digeridas ou uma brisa suave que arrastou o grãozinho até a copa dela. Bem, mas isso não interessa, o que quero contar e como ele fixou suas raízes num dos ramos, acho que o mais robusto, e começou a soltar folhas depois da germinação. A árvore recebia ele como se o estivesse esperando desde sempre. O acolhia mansamente e lhe soltava flores em cima da folhagem exuberante que essa planta possuía. Dividiam as coisas da vida: as chuvas, os sois e o farto alimento que a floresta propiciava.
Entretanto o que mais admirava deles era uma certa independência na maneira de ser, apesar de muito juntos, como abraçados entrelaçando ramos e raízes aéreas, trabalhavam e se comportavam de modo diferente. Não eram o que se acostuma dizer de cara-metade, porque cada um vivia a seu modo, sem sufocar um a existência do outro. Independentes nas suas maneiras de ser, me levavam à pensar que esse grupo de seres vivos, que chamamos de reino vegetal, nos dão lições de comportamento.
Quantas e quantas vezes vi casais possessivos e atormentados pelo pavor da infidelidade, praticar um afeto muito apegado e carregado de ciúmes. Essas relações asfixiantes tão comuns e ao mesmo tempo tão desprovidas de elegância não são vistas no jardim. Nele há um convívio um pouco quimérico, quase perfeito, onde germinam não só as sementes caídas mas também os ideais elevados. Por isto quando digo “almas gêmeas” penso no caráter nobre que os tornou aliados, nesse sentimento amoroso. Juntos crescem aproveitando uma afinidade traçada pelo destino, sem interferir no íntimo que cada um tem.
Uma verdadeira lição de vida.