Dora Jardim sugere falar da perseguição a paisagistas autodidatas, gente que já está no ramo há mais de 20 anos trabalhando e que, por razões pessoais não puderam cursar uma universidade, mas que são muito bons no que fazem.
Perseguição é um termo um pouco forte. O que realmente há é uma espécie de lobby que privilegia os arquitetos em detrimento de outros profissionais e também daqueles que, através do conhecimento empírico, adquiriram conhecimentos e sabedoria suficiente para habilitá-los à criar projetos.
ALGUNS EXEMPLOS
Na foto, Burle Marx, maior paisagista de todos os tempos
Le Corbusier projetou sua primeira casa aos dezoito anos, em 1905, na sua cidade natal, La Chaux-de-Fonds, e nunca frequentou, pelo menos como estudante, uma faculdade de arquitetura.
Frank Lloyd Wright estudou engenharia e faltando poucas semanas para sua graduação, abandonou o curso e foi trabalhar em Chicago como desenhista no escritório de Silsbee, um arquiteto famoso. Foi um dos maiores arquitetos de todos os tempos, sem ter se graduado arquiteto.
Machado de Assis, nascido no Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade, contudo escreveu em praticamente todos os gêneros literários. Foi poeta, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário.
Bill Gates foi admitido na prestigiosa Universidade de Harvard, mas abandonou o curso no 3° ano, para dedicar-se à Microsoft.
O maior paisagista de todos os tempos, durante sua estadia na Alemanha, estudou pintura. De volta ao Rio de Janeiro, em 1930, Burle Marx fez um curso na Escola Nacional de Belas Artes. Nunca fez arquitetura, biologia ou qualquer outra coisa que, aparentemente, lhe desse conhecimento na área em que atuou.
Eles foram autodidatas, pessoas com capacidade de aprender algo sem ter um professor, um mestre lhes ensinando ou ministrando aulas formais em um instituto de ensino. Com esforço e muita intuição, pesquisaram e acharam o necessário para se destacarem nas suas áreas de atuação.
O termo vem do grego autodídaktos. Que é quem aprendeu ou aprende por si, sem necessidade de professores.
PAISAGISTAS
Paisagistas autodidatas quase sempre enfrentam dificuldades no início de seu processo de aprendizado, por falta de orientações, de uma metodologia de estudos e pesquisas. Para se tornar um bem-sucedido projetista de jardins é necessário uma grande carga de leitura, de visitas aos cultivos de plantas, de estágios nas diferentes áreas, suprindo assim a ausência de uma faculdade, o qual traria a resposta de forma mais rápida e fácil.
Atualmente parece-me importante frequentar um instituto universitário de alto nível, orientado para a criação, transmissão e difusão do saber, da ciência, da tecnologia e da cultura vinculada à paisagem. Esses institutos universitários ou faculdades, dentro ou fora do Brasil, conferem os graus acadêmicos de licenciado, mestre e doutor. Cabe junto a esse diploma o trabalho árduo de buscar os próprios caminhos, andando sempre em direção ao conhecimento, levando em conta que os segredos da paisagem não se deixam revelar facilmente. Ela é formada de numerosos níveis e estruturas, sendo que, podemos obter o conhecimento dos distintos componentes que estruturam um jardim em níveis distintos.
Algum dia (tomara) tudo isto será esclarecido e os verdadeiros paisagistas, aqueles que sabem de botânica, que dominam o desenho espacial, que entendem as atitudes do ser humano e suas necessidades urbanas poderão ser chamados, legalmente, de paisagistas.
Autor: Raul Cânovas