A regulamentação da profissão de paisagista - Parte II (continuação)

Comentário da leitora Patrícia Arruda


Paisagista desenhando

"Gostei do texto de Helena no que diz respeito a fazer um breve esclarecimento do que é um paisagista, que talvez por esta definição devemos ter aí, a nível nacional, uns dez por cento, enquanto os outros noventa por cento são jardinistas. É comum de se ver projetos arquitetônicos bem estruturados com design moderno e arrojado e várias plantas de sol pleno em locais assombreados e vice-versa, plantas que atingem uma dimensão gigantesca em locais com pouco espaço. Aí resta a dúvida: será que um biólogo, engenheiro florestal, agrônomo, auto-didata, com um pouco de paixão e pesquisa e dedicação ao seu trabalho, ao ser tratado como jardinista deve se sentir ofendido? Claro que não!

Só acho que profissionais com formação acadêmica e excelente desempenho profissional deveriam sim ser reconhecidos e não colocados num "pacote" e serem taxados. Digo isto pois não tenho formação acadêmica e não quer dizer que não seja importante, trabalho com paisagismo há três anos, quer dizer, "jardinismo" segundo a nossa querida Helena, mas isto para mim não tem a menor importância, pois faço os desenhos da mesma forma e não tem preço que pague a satisfação em vê-los sair da tela do computador e ganhar forma nas residências dos meus clientes.

Quando eles nos procuram para realizar seus projetos, vêm indicados por outros clientes satisfeitos. Não há rejeição, pois a maioria dos paisagistas tenta impor o seu desejo, o seu bom gosto, sem levar em consideração a necessidade do cliente. É comum ouvirmos elogios deles, afinal são eles que irão conviver com o colorido das plantas e com o aroma das flores. O jardim que está até sendo deixado de lado na questão, é peça fundamental na harmonia de uma família, pois é lá que acontecem os principais eventos de uma casa, seja num lago ornamental para esquecer a rotina do dia-a-dia vendo os peixes e as aves beber a água do lago, faz a pessoa esquecer as amarguras da vida e querer estar na sua casa, num paraíso particular. Acho também que o paisagismo hoje tem a principal missão de integrar homem e natureza, sem fios, sem hidráulica, sem drenagem… enfim, é o resultado que vale a pena e não o título de qualquer profissão. É atingir o alvo, suprir a necessidade daquele ambiente de harmonia e paz. A parte teórica é bem trabalhosa, exige muita pesquisa e dedicação até para os mais sábios, que dirá para leigos como eu. Encontrei na jardinagem um rumo para a vida, uma meta para o futuro, de colocar vida em meio a concreto, ferro e vidro."

 

Resposta de Raul Cânovas

"Cara Patrícia,

 

Sinto que este debate está longe de acabar, devido aos diversos ângulos que precisam ser contemplados.

 

Nas últimas décadas as cidades explodiram: a capital mexicana tem 6.000 habitantes por quilômetro quadrado, São Paulo mais de 7.000. O crescimento demográfico nas cidades africanas é assustador, ficando entre 3% e 4%, enquanto nos centros urbanos europeus não alcança 0,50%. O êxodo rural acelera o adensamento das cidades, particularmente na América Latina, onde as obras de infra-estrutura não acompanham a velocidade com que estas metrópoles aumentam em número de habitantes.


Multidão em rua de São Paulo

Isto motiva uma reflexão. O paisagista brasileiro, assim como seus colegas deste continente, devem estar mais antenados com as necessidades dos locais em que desenvolvem seus projetos. As cidades estão carentes de vegetação, não para enfeitá-las, mas para supri-las do conforto ambiental indispensável à vida dos homens e das mulheres que nelas vivem. Considerando que o número de habitantes no mundo já estourou os 7 bilhões e que irá para 9,2 bilhões em 2050, concluímos que os urbanistas e os paisagistas são, hoje, responsáveis importantes na busca de soluções urgentes. Diferentemente dos países europeus, onde as capitais, com exceção de Londres, não ultrapassam os 2 ou 3 milhões de pessoas, aqui, no Brasil, sete cidades já estão acima dos 2 milhões e mais dez com mais de 1 milhão.


Um sistema de transporte público eficiente e áreas verdes foram alguns dos motivos que tornaram Hamburgo a Capital Verde da Europa de 2011

Se não ficarmos mais atentos com as nossas áreas verdes (com verde verdadeiro) respirar será mais difícil a cada ano que passa. Certamente os paisagistas com formação apenas nas faculdades de arquitetura, onde aprendem estética, desenho, história da arte e da arquitetura e projeto, entre outras, não conseguem compreender as questões fundamentais inerentes à paisagem que, evidentemente, estão ligadas à vegetação e a todas as ciências a que ela está vinculada.


São Paulo, uma cidade carente de espaços verdes

Perceber a paisagem é uma atribuição daquele que consegue enxergar além de seu contorno imediato, das paredes das habitações, das faces superiores de cada andar de um edifício, enfim, do abrigo construído. Só o olhar atento e especializado do profissional que acostumou e estudou os compromissos com a natureza e com a flora relacionada a ela, poderá achar soluçõotilde;es que minimizem o impacto que o avanço da construção civil produz.

Polêmicas à parte, julgo bastante prudente que os amantes da jardinagem e do paisagismo passem a frequentar cursos que os capacitem para um melhor desempenho da atividade."

Autor: Raul Cânovas

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